bagagem


carregava consigo muita coisa que não precisava. coisas que só lhe aumentavam o peso e elevavam o custo de transporte. que sempre avacalhavam a entrada em novas portas e custava-lhe a atenção para adquirir novas coisas e sentimentos. tomar conta de muita coisa, afinal, dá muito trabalho.

volta e meia ficava tentada a aliviar o peso de tudo aquilo - ela sabia que carregava demais, mas simplesmente tinham coisas que eram difíceis de desapegar.

quando duvidou sobre os caminhos que vinha trilhando, tomou coragem e abriu a bagagem. enquanto brilhavam os olhos, percebeu a inutilidade de algumas coisas que nem ela conseguia mais usar: não tinha mais paciência pra'quilo, não tinha mais tempo pra'quela coisa. não queria nem ver mais aquele troço e tão pouco aquilo ali ainda serveria para o presente - o problema não era conseguir classificar tanto peso morto. era se livrar de todo ele.

apesar de todas as revisões, a maioria das coisas sempre ficava - um peso que por mais de meio morto, tinha sido jurado amor eterno.

a verdade é ela sabia que, no fundo, tinha muito medo de ficar leve. de se sentir leve e partir. por isso, dedicava todo o amor para conseguir manter as costas tão fortes.

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