big sena



ela sentiu que aquele dia tinha vibrações diferentes. que um dia seria muito afortunada: ganharia todo o dinheiro que precisava para satisfazer-se e alegrar todos a sua volta.
ah, instantaneamente, compraria aquele carro, com aquelas rodas. daquela marca que qualquer assistência técnica exigiria o custo de outro carro - que ela provavelmente compraria também, já que em seus planos não cabiam um carro só.
tinha horror a pobreza e queria ser diferente: não dar para a mãe a 'casa dos sonhos'. daria uma viagem. a colocaria sentada em um avião com quem quisesse e voltaria quando enjoasse. obviamente chegaria e ganharia a tal casa - ô espírito...
para o irmão, uma empregada, de preferência bem feia. já que este nascera com aversão a organização e aparentemente surdo aos apelos da genitora, resolveriam-se dois problemas. ela adorava pensar em tudo.
já estava esquecendo dela. com a casa limpa e mamãe desvendando mistérios de línguas, aeroportos e novas cores, ela faria isso consigo. dias de mulherzinha, de shopping, de passeios em carros conversíveis onde o cabelo não desarruma. para a amiga acompanhante - aquela que esteve sempre presente - presentes, claro. quem sabe o fim dos boletos e duplicatas estudantis todo mês. ah, ela faria nisso. era sua melhor amiga.
praia? casa de praia, roupa de praia, bronzeado de praia, lancha na praia. tudo!
e nova cinturinha. e cabelos geneticamente modificados. e uma fazenda parecida com a do bruno mezenga do rei do gado.
viajar. sozinha, com o pessoal mais próximo, com a galera. registrando tudo, com aquela foto perfeita parecendo ser produzida por profissionais. ela ainda pensa: será que o dinheiro tá acabando? não poderia, ainda queria ajudar muita gente!
os avós são cheios saúde. ainda bem, mas queria garantir-lhes isso. também outra chácara, a aposentadoria do fusca 'semi-novo' e finalmente alguém que convença a avó que não precisa lavar todas as roupas à mão se existe a tal máquina de lavar roupas. pensa no bem que poderia fazer se dinheiro pudesse comprar a chuva que seu avô pede todos os dias. maldito dinheiro que não compra tudo! mas um sisteminha de irrigação novo, opa.
planejara tudo: o que fazer, para quem, com quem e sem quem também. até as pessoas que diria um tchau eterno, para as que sumiria automaticamente. aqueles momentos de planejamento eram tão felizes que quase sentiu uma realidade em tudo que pensou.

mas não foi na loteria aquele dia. iria no próximo. talvez, no outro. nestes dias de stresse, acabou ficando com aquela preguiça eterna.

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