Pedra, papel

Antes de virar pedra eu quero dizer que eu deixei você entrar.
Deixei você assumir um papel, pendurar suas roupas, chutar meus sapatos, vestir minha camisa - ser a minha camisa. Antes de virar pedra eu preciso dizer que eu me doei para você. Cada milímetro de pele, de ossos, de movimento. Quis te poupar dos tormentos dos meus defeitos: eu não queria ser devolvida para mim. Antes de tudo isso eu quero dizer que assumi meu papel e me confessei para você: eu não sei conviver com a minha insistência. Não aceito e morro de curiosidade sobre coisas que dizem tudo sobre nós - e que não sei viver com você me deixando conviver só comigo, não contigo. 

Não consigo. Antes de virar pedra eu quero dizer que isso é mérito seu. Você chutou meus sapatos, possuiu cada pedaço e nem mesmo com todo esse espaço, foi capaz de honrar seu papel: o de que era você o ser incapaz de me machucar. Não ia me devolver sem me recarregar. 
Me dilacerar, afinal, papel também corta, a ponto de me fazer endurecer, feito pedra.
Aquela mesma pedra que parece ser forte. Mas que sempre perde para o papel.

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