castelinho

as conclusões precipitadas diziam que ela era uma pessoa difícil de se aproximar, de se aprofundar - ela tinha um castelinho restrito que os convidados eram absurdamente selecionados. uns ganhavam passe com o tempo, outros com a forma de comportamento, cautela, discernimento: era uma questão de merecimento. logo, às vezes tinha certa fila pra entrar. outras vezes, era possível ver gente sendo expulsa, gente saindo. de vez em quando, um absoluto deserto na frente dos portões. 
uma vez lá dentro, o importante era não mexer em nada - era tudo milimetricamente arrumado, alinhado. tinha essa mania de saber exatamente como tinha deixado tudo e quem havia passado por lá. 
no castelinho, tinha sim aqueles cantos que ninguém quer que as visitas vejam, aqueles que acumulam uma poeira que brota do chão. tinha o cantinho da bagunça - morar num castelo não fazia dela uma princesa. o sotão era onde ela mais se orgulhava: realmente ali só entrava gente especial. que pedia, limpava o pé e fazia ela sentir orgulho por ter feito uma seleção tão apurada e certa. lá podia se ver tudo e o porquê de tudo: as imagens do alto davam muito mais satisfação. sem falar naquela brisa... como era bom encher o peito de ar, de energia, de alívio.
obviamente, o problema não era ali.
quando menos se espera, ela ouve gritos de um lugar cheio de gente que ela não consegue expulsar. gente que estacionou no porão, fez dele um calabouço que atrapalha, por todo sempre, a felicidade e harmonia dos andares acima. cômodo que desvaloriza todo o prédio, todas as pedras que ela suou para conseguir erguê-lo tão alto e tão bonito.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

não duvida não

eu te amo

quem acha, procura